Apesar dos alertas para a data chave (27 de fevereiro), os rondonienses e a classe política demoraram a entender que a privatização/leilão da concessão da BR-364 não seria benéfica para o estado, principalmente da forma que foi feita: com apenas 100 quilômetros de pistas duplas e com pagamento de pedágio salgado.
O consórcio 4UM-Opportunity foi o único a apresentar proposta no primeiro leilão de uma rodovia federal localizada na região Norte do Brasil. Com isso, será o responsável pela gestão da rodovia por 30 anos.Na proposta apresentada, ficou estipulado um desconto ínfimo no valor do pedágio de 0,05% em sua tarifa básica. O leilão durou menos de 50 minutos.
Com investimento previsto de R$ 6 bilhões, a concessionária da BR-364 irá duplicar e implantar terceira faixa em mais de 300 quilômetros, o que representa menos de 20% de toda a extensão da BR.
Com as ações de última hora e muito atrasadas, ninguém (repito ninguém) conseguiu barrar a licitação, seja por via judicial ou pelo diálogo.
Fazendo um cálculo bem rápido um caminhoneiro vai pagar de pedágio 1 mil reais no trajeto Porto Velho-Vilhena. Ida e volta serão “módicos” R$ 2 mil.
Para o cidadão comum será um pouco menos salgado (mas com impacto também): a mesma viagem entre a capital e a principal cidade do Cone Sul vai custar R$ 99,25 divididos em sete praças de pedágio, o que dá uma média de R$ 14,18 em cada um deles.
Agora, não dá mais
A BR-364 em Rondônia é uma rota assassina. Uma rodovia com quase 800 quilômetros entre Vilhena e Porto Velho já ceifou milhares de vidas ao longo dos últimos 20 anos. A rodovia foi aberta na década de 1960 e pavimentada na década de 1980. Ela trouxe desenvolvimento econômico e crescimento populacional nos estados de Rondônia e Acre.
Mas, desde sua pavimentação, nunca mais teve melhorias significativas, e em alguns períodos chegou a ficar ainda mais perigosa, devido a falta de manutenção. Muitos foram contra a privatização, mas sempre defenderam a duplicação, o que nunca sequer chegou a ser cogitado pelos governos federais (e me refiro a todos, desde a redemocratização com Collor de Mello). Inclusive pelo “amigo” do agronegócio Jair Bolsonaro (PL).
Eis que no terceiro mandato de Lula da Silva, foi anunciada a concessão. E do nada (e muito tardiamente), grupos distintos começam a se manifestar, contra o modelo que estava sendo concessionado.
Leilões muito mais problemáticos foram feitos em Rondônia, de forma descarada e altamente prejudiciais a toda a população, como o caso da Ceron, que foi vítima de um verdadeiro assalto no governo Temer.
Vendida por meros R$ 50 mil, para que a Energisa assumisse uma dívida medíocre, e hoje a população paga essa conta, que é um bem essencial, afinal ninguém consegue viver de forma digna sem energia elétrica.
Praticamente todo mundo que vive em Rondônia conhece ou já perdeu alguém vitimado por acidentes na BR 364. Basta um Google sobre “morreu na BR 364 em Rondônia” para ver a quantidade de notícias que explodem.
O modelo está errado? Sim, está. Mas o tempo de debater passou. Todos que agora se manifestam, tiveram tempo mais que suficiente para discutir esse tema, apresentar propostas, mas para variar, deixaram para chorar depois que o leite derramou.
Cabe agora os que aparecem para reclamar, buscarem judicialmente ampliar as áreas que não terão duplicação, ao Governo do Estado melhorar e ampliar a malha viária, permitindo que as populações das cidades possam desviar pelas rodovias estaduais o tráfego, proibindo carretas de circularem.
Rondônia precisa acordar o quanto antes. Todo mundo dormiu no ponto (nessa vez e em outras, passadas). Todos deveriam estar sempre atentos a questões importantes.
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