Publicada em 21/04/2023 às 10h48

Porto Velho, RO – Pode-se ranger os dentes e torcer o nariz, mas fato é que o ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, a despeito de defenestrado da Presidência da República em dois turnos no ano passado, ao menos em Rondônia causou impacto significativo o suficiente para produzir efeitos prolongados e sem prazo de validade.

Prova disso é que atualmente a única representante eleita pelo estado em 2022 declaradamente de esquerda é a deputada estadual Cláudia de Jesus, do PT. Com  atuação inócua, diga-se de passagem. Seu pai, Anselmo de Jesus, não engolia essas ofensivas a seco quando ocupou assento na Câmara Federal.

Tanto que quem controla a narrativa é o Delegado Rodrigo Camargo, do Republicanos, que “deita e rola” em cima do esquerdismo prostrado local.

Todos os demais estão preocupados o suficiente para andarem em cima do muro, sem se comprometer, ou, lado outro, assumiram casamento com a direita.

Os poucos arquétipos que assumem o posicionamento ideológico progressista batalham em outras frentes, fora dos mandatos eletivos.

Dois exemplos saltam aos olhos: Samuel Costa, do PCdoB, candidato à Prefeitura de Porto Velho em 2020; e Vinícius Miguel, do PSB, professor universitário e advogado humanitário cujas pautas sociais rompem as linhas fronteiriças nacionais e internacionais.

O primeiro, rotineiramente debate com empresários, “raposões” do liberalismo e jovens direitistas na televisão aberta. Ele, fixo; seus adversários no embate retórico em frequente rodízio.

O segundo, cobrando especialmente na seara legal direitos das Pessoas com Deficiências  (PcDs); denunciando trabalho análogo à escravidão; defendendo causas indígenas, dentre outas pautas humanitárias.

Enquanto os canhotos do tabuleiro se esparramam num cada um por si, o outro polo cresce, se arregimenta, cria unidade, e arroga para si o monopólio de toda a coletividade.

O que não é real.

Fosse, muito provavelmente Marcos Rogério, do PL, seria neste momento o governador de Rondônia.

E o que ocorreu foi o contrário: seu ódio declarado aos opositores afastou potenciais eleitores do centro à esquerda, que, numa espécie de “Escolha de Sofia” adaptada, foi com o bolsonarista menos extremista. Qual seja, Marcos Rocha, do União Brasil, reconduzido às rédeas do Palácio Rio Madeira por mais quatro anos.

Muita coisa mudou em pouco mais de uma década, entretanto. O enfraquecimento foi geral.

Até mesmo no âmbito do sindicalismo, onde havia por parte das entidades lutas homéricas a favor dos trabalhadores, existe uma apatia crônica contemporânea. Soa como um “amém” eterno, beirando ao peleguismo.

O que falta é esmero. Olhar no espelho. Revisitar o passado. Não só personagens do pretérito, mas pessoas vivas atualmente em suas versões mais antigas, fazer um “downgrade”, que, nesta situação específica, seria essencial para recobrar a vitalidade político-partidária.

Relembrar a essência dos que já foram com intenção de permear quem ainda trilha pelas planícies terrestres.

Fátima Cleide, Hermínio Coelho, Roberto Sobrinho, Eduardo Valverde, Odair Cordeiro e Jorge Streit.

E mais: Mauro Nazif, Monoel Néri, Daniel Pereira, Lazinho da Fetagro, Ramon Cujuí, Neri Firigolo e Nereu Klosinski.

A esquerda regional está quebrada com seus motes defendidos hoje por simpatizantes envergonhados, como o ex-governador Confúcio Moura, do MDB. E, há pouco tempo, pelo ex-deputado Expedito Netto, do PSD, que hoje tem cargo no governo Lula, do PT. Netto é o atual secretário Nacional de Pesca Industrial do MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura).

 O espectro precisa se reinventar começando pela junção dos cacos.